Tive que sair para comprar algumas coisas, e acabei dando de cara com a concentração para uma carreata pró-Bolsonaro. Já havia filas de carros, muitas pessoas: senhoras, homens de barba, mulheres com a sobrancelha feita, como manda a moda... gente normal. Perfeitamente normal. Vi algumas crianças, também. Boa parte delas de amarelo, algumas vestindo camisas estampadas com a efígie do candidato ou dizeres como "Bolsonaro Presidente" ou "O Brasil Acima de Tudo, Deus Acima de Todos". Alguns carregavam bandeiras do Brasil; fitas, balões e adesivos ostentando o verde-amarelo, nosso pendão e / ou a imagem e o número do capitão também enfeitavam os carros.
Tenho o hábito de guardar material eleitoral dos candidatos, um souvenir de cada ano de eleição. Neste 2018, em que as regras de financiamento de campanha mudaram tanto, não tinha conseguido nada no 1º turno. Aproximei-me de 3 senhoras e perguntei se elas tinham algum santinho ou panfleto para me dar. Elas disseram que "não, que a campanha é pobre, não tem dinheiro", mas sugeriram que eu tentasse com um grupo próximo. Ali, em meio a carros de mala aberta vendendo camisetas, bandeiras e coisas assim, encontrei os prováveis organizadores, com quem consegui apenas alguns adesivos circulares que exibiam um Bolsonaro sorridente, seu nome e seu número. Comprei de um homem dois balões em forma de bastão com o nome e o número do candidato; são pra serem batidos um contra o outro, fazendo barulho. R$ 5 o par.
Pensei na possibilidade de puxar assunto com alguém, de tentar argumentar que aquela não era uma boa escolha. Porém, a esta altura, eu já estava bem desanimado. É cansativo lutar morro acima, especialmente em uma batalha que já foi combatida, ainda mais contra pessoas comuns, contra seus irmãos; Enquanto eu saía com a cartela na mão, uma menina de uns onze anos, cabelo comprido, veio sorridente oferecer-me adesivos. Devolvi o sorriso e agradeci, enquanto explicava que já tinha os meus. E fiquei muito triste. Tive compaixão.
Imaginei estas pessoas da onda Bolsonaro tendo que testemunhá-la desabar pesadamente sobre a areia. Compadeci-me de sua decepção. Pensei nos jovens bolsominions idealistas, que vão ter que ver suas esperanças serem linchadas pela realidade, este rito tão inevitável da experiência de vida e do amadurecimento. E só fiquei triste. Só triste.
Por um momento, temi os resultados desse debacle. Panelas batendo? Manifestações? Mais um impeachment, como em 1992 e em 2016? Mais um golpe, como em 1964 e em 2016?
Não ( tentei consolar-me como se faz com as crianças, mentindo que tudo ficará bem ), a gente vai rir pra não chorar, a gente vai engolir a realidade com um copo d'água, e a gente vai levando; O brasileiro sempre vai levando. O GIGANTE SE LEVANTA! Bebe água, faz xixi e volta pra cama. Somos o "País do Futuro", e até onde a vista alcança, assim vamos continuar sendo. Quem sabe na próxima? Talvez em 2022...
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